A pandemia da Covid-19 trouxe diversas mudanças para o dia a dia. Os ambientes fechados dos escritórios deram lugar a quartos e salas mais arejadas, fazendo com que os hábitos de vida e trabalho fossem repensados.
Segundo a arquiteta e designer Bia Gadia, cerca de 90% do tempo das pessoas é vivido em locais fechados, mas, com o novo coronavírus, todos foram obrigados a mudar isso. “Pensando de forma positiva, essa situação permitirá uma ressignificação de algumas tipologias convencionais em prol de uma arquitetura mais saudável para a cidade e para as pessoas, melhorando sua qualidade de vida”.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o termo saúde como “o estado completo de bem-estar físico, mental e social do ser humano”, ou seja, vai além do senso comum de que “saúde é a ausência de doenças”. A abordagem profissional que cuida das instâncias biológicas, mentais e sociais é chamada de modelo biopsicossocial.
“A proposta de serviços multidisciplinares em saúde com a perspectiva biopsicossocial tem sido considerada uma meta da medicina neste século desde de 1948”, explica a arquiteta.
A partir do olhar biopsicossocial, a saúde e a doença são compreendidas como consequência não somente da interação dos fatores biológicos do organismo do indivíduo, mas também do ambiente em que vive e de suas relações sociais. O resultado disso, a arquiteta Bia Gadia tem chamado de Arquitetura Biopsicossocial.
“Há 20 anos, eu estudo e projeto construções sustentáveis e ambientes saudáveis, então fui observando que boa parte das doenças crônicas que acometem as pessoas são adquiridas durante o curso de suas vidas, de acordo com seus hábitos e espaços frequentados”, revela.
A arquiteta cita a famosa frase de Winston Churchill: “Nós moldamos nossos edifícios; depois disso eles nos moldam”. “A Arquitetura Biopsicossocial mostra preocupação com o ser humano e o meio que ele está inserido. Ela envolve a execução de estratégias ecologicamente corretas, economicamente viáveis e socialmente justas”, observa Bia Gadia.
Dessa forma, a Arquitetura Biopsicossocial visa estudar a causa e o progresso de doenças através de fatores classificados de quatro maneiras: biológicos, psicológicos, sociais e físico ambientais. O primeiro grupo envolve as doenças como resultado do funcionamento do organismo e de fatores de ordem biológica, como vírus e bactérias.
De acordo com Bia Gadia, o grupo dos fatores Psicológicos envolve “todas as condições psicológicas do indivíduo que podem afetar o funcionamento do corpo e mudanças de humor, personalidade, comportamento, entre outros”.
Já os Sociais envolvem as condições econômicas, culturais, familiares, afetivas, de relacionamento, entre outras. Sobre o grupo de fatores Físico Ambientais, a arquiteta revela que luz, temperatura, vento, umidade, acessibilidade, ergonomia, especificação de materiais adequados, execução e manutenção constantes são pontos importantes a serem observados.
“Os ambientes afetam diretamente a saúde das pessoas. A Organização Mundial de Saúde estima que, no Brasil, 50% das edificações sofrem da Síndrome do Edifício Doente, contribuindo para o surgimento de doenças”, completa.
Na visão de Bia, esse tipo de arquitetura propõe uma visão ampla sobre a causa e o progresso de doenças através de todas as relações que uma pessoa pode ter com o ambiente em que se encontra.
Com isso em mente, a arquiteta acredita que nesse momento de mudanças que o mundo vive, é uma boa oportunidade para repensar as formas que a arquitetura para ambientes de saúde pode responder melhor ao conforto e qualidade de vida dos usuários. “É a hora de abandonar os antigos paradigmas e adotar soluções biopsicossociais”, diz.
Os projetos arquitetônicos devem ser responsivos e planejados para suprir as lacunas presentes no mercado e fazer com que o ambiente seja saudável, sustentável, confortável e funcional, valorizando ainda mais o bem-estar dos usuários.
A definição mais precisa de Arquitetura Biopsicossocial para Bia Gadia é “a arte de construir espaços para a vida e, ao mesmo tempo, incorporar a evolução digital, oferecendo ambientes seguros, saudáveis e conectados. Não é sobre mudar as pessoas, é sobre transformar o ambiente e impactar a qualidade de vida do ser humano. É nesse contexto que as avenidas da arquitetura e da medicina se cruzam com a medicina preventiva, preditiva, participativa e personalizada”, conclui a arquiteta, CEO da Bia Gadia Arquitetura e Design.
*Matéria publicada na Revista Healthcare Management: https://informativo.grupomidia.com/healthcare-management-75-edicao-capa-b